Planeta Sustentável

domingo, 11 de agosto de 2013

SAÚDE – Alimentação e Higiene à época de Dom João VI


Alimentação

Sabemos que os hábitos dos brasileiros sofreram muitas mudanças com a transferência da Família Real Portuguesa para o país em 1808. O Estilo europeu de viver tornou os costumes mais cosmopolitas e como já vimos se refletiram nas vestimentas mas também à mesa, na higiene, no saneamento, na forma de convivência entre as pessoas e até mesmo na decoração das casas. Os hábitos alimentares igualmente sofreram grande influência da corte portuguesa no Rio de Janeiro. Começaram a aparecer as delícias da culinária europeia e o cardápio começou a sofrer transformações. Por isso, podemos dizer que hoje a gastronomia brasileira é uma das mais ricas do mundo, porque, além de utilizar a imensa variedade de alimentos disponíveis no Brasil, muitas plantas ainda foram importadas da Europa e de outras regiões do mundo e se adaptaram perfeitamente às nossas condições climáticas. O Brasil, assim, se tornou um dos países mais ricos do mundo no âmbito gastronômico.
Os hábitos alimentares da Família Real Portuguesa
Muitos já ouviram falar do apreço de Dom João VI pelo consumo, em uma única refeição, de três frangos e uma sequência de cinco mangas, descascadas por ele. Mas e sobre as preferências gastronômicas dos outros membros da família imperial? Chega às livrarias para a comemoração dos duzentos anos da vinda da Família Real para o Brasil, um livro sobre os hábitos alimentares de diversas personagens como dom Pedro I e a princesa Isabel. Editada pela Jorge Zahar, a obra é resultado de uma pesquisa feita pela historiadora portuguesa, Ana Roldão, gerente de negócios do Museu Imperial de Petrópolis, e escrita juntamente com o jornalista Edmundo Barreiros. "Acompanha toda a trajetória do Brasil Império. Começa conosco, lá em Portugal, e segue a Família Real até aqui. Não será um livro científico, e sim uma obra romanceada em cima de fatos históricos", diz Roldão, em entrevista à Folha. “Quando abri o bistrô, Petit-Palais, na propriedade onde fica o museu, as pessoas perguntavam: Tem comida do imperador? O que dom Pedro I comia? E a princesa Isabel?'. Eu não fazia a menor ideia do que comiam.” Devido às perguntas que se tornavam cada vez mais frequentes, a historiadora decidiu pesquisar através de documentos históricos, de anotações dos mordomos da família (sobre a aquisição de insumos para a casa imperial), de cadernos de ucharia (que relacionam os itens da dispensa), de livros portugueses de receitas do século dezenove, de menus escritos, de cardápios de viagens e da correspondência, principalmente, da princesa Isabel. "Tem pouca coisa escrita sobre a alimentação deles, mas o material gráfico é rico, há uns menus bonitos", diz. Entre as curiosidades do livro com título provisório de "Banquetes Reais", está a predileção da princesa Isabel pelos doces de ovos e sorvetes. "Há uma forte influência portuguesa no gosto dela. É alucinada por todos esses doces portugueses. Adora pão-de-ló, chá. É uma figura bem rica para trabalhar com alimentação, pois fala muito de comida", diz a historiadora. "Reclama do jejum que tem de fazer na Quaresma, diz que não aguenta mais o peixe em lata e as batatas cozidas." A autora também ressalta Dom João VI. "Vou reproduzir no livro um documento em que ele conta dos três 'frangões', não frangões, que comia. Menciona o cozinheiro dele, Alvarenga, dizendo que ninguém sabia prepará-los como ele." Ainda que grande parte dos produtos consumidos pela família viessem de fora (amêndoas, lebres, pistache, chá), coube a dom João VI introduzir ingredientes brasileiros na dieta alimentar da família, especialmente na família dele, caso da manga (de Itu) e da goiaba. A respeito de Carlota Joaquina, temos que a quantidade de cachaça que encabeça a lista de compras da cozinha do palácio onde ela vivia era enorme. Segundo Ana Roldão, na Torre do Tombo, em Lisboa, um documento indica que eram consumidas muitas unidades de aguardente de cana por mês, a maioria destinada ao quarto e à cozinha de Carlota. Ela tomava aguardente misturada com sucos de frutas frescas, pois sofria demais com o calor brasileiro. Tinha necessidade de hidratar o corpo. No câmbio de informações, podemos notar que a alimentação das mulheres era carregada nos doces, o que explica, porque a aguardente era usada para conservar compotas de fruta. Já Dona Leopoldina, quando veio para o Brasil, em 1817, casar com dom Pedro I, trouxe na bagagem um carregamento de repolhos, salmões salgados, carne de porco e feijão-verde. E Dom Pedro I não dispensava um bom prato de arroz com feijão. Ana diz ter descoberto por suas pesquisas que ele preferia fazer as refeições na cozinha a comer na sala de jantar. Tem um lado, não só aquele fervoroso de amantes e tal, mas humano, de estar com as pessoas do povo. Era o 'garoto das cavalariças'. Um dos relatos engraçados levantados pela historiada trata de um dia em que Pedro I, já imperador, foi cavalgando a uma fazenda e chegou lá antes da comitiva. "Sem se identificar, entrou pela cozinha e disse à cozinheira que estava com muita fome. E ela: 'Ó moço, posso dar algo simples, porque estou esperando o imperador'. Ofereceu-lhe arroz, feijão, carne e aguardente. Quando o dono da fazenda entrou, viu o imperador sentado na cozinha, tomando cachaça, comendo a comida dos empregados e rindo."
Aqui vai uma receita do livro "Cozinheiro Imperial"
Corte o miolo de pão em bocados redondos ou quadrados, da grossura de dois ou três dedos. Passe-o, rapidamente, por um molho de vinho branco da Madeira (ou qualquer outro vinho branco). Depois de escorridos, passe-o por ovos batidos e frite em óleo quente até ficarem dourados. Sirva com calda de vinho e açúcar, ou do licor desejado.
Saúde Pública e Higiene

O Rio de Janeiro enfrenta graves problemas de saúde pública em pleno Século XXI, mas isso não é simplesmente uma consequência do progresso, com a expansão imobiliária e o inchaço da metrópole, hoje com milhões de habitantes. Antes mesmo da chegada da Família Imperial Portuguesa, o Rio de Janeiro já sofria com dificuldades de saneamento básico que culminavam com epidemias terríveis. No período não existiam, na colônia, médicos especializados em todos os tipos de doenças, trabalho que acabava sendo exercido por pessoas desqualificadas para a função, como por exemplo, os religiosos e os barbeiros. A medicina era precária e engatinhava: como vimos, começou realmente a se estabelecer no Brasil com a vinda de D. João VI. O saneamento básico das cidades era muito deficiente. Os hábitos de higiene da população eram incompatíveis com as normas conhecidas de "saúde pública". O número de médicos aumentou com a chegada da Família Imperial, mas o atendimento era privilégio da corte e das famílias mais abastadas da época. Verdadeiramente, muitos fatores contribuíam para que os portugueses - mais vulneráveis às condições climáticas e higiênicas do país - contraíssem algum tipo de doença. Os nobres eram enterrados nas igrejas, sem quaisquer tipos de preparação ou cuidados com o acondicionamento dos corpos, o que também aumentava a possibilidade de se alastrarem diversas epidemias.
Contudo, a principal mudança teria que acontecer mesmo no sistema de saúde da colônia, pois as condições eram calamitosas. As doenças de pele alastravam-se, bem como as doenças pulmonares, venéreas e uma série de outras viroses, decorrentes da miscigenação que se iniciava no Brasil. Em 1808, das 60 mil pessoas que habitavam a colônia, 20 mil eram trabalhadores da saúde e eram conhecidos como "barbeiros". Com o aumento do número de médicos, foram formadas em território brasileiro as primeiras turmas de profissionais. Os principais focos de doença não foram dizimados e o saneamento básico continuou precário até o final do século, sendo efetivado a partir de 1860. A saúde foi o órgão público que menos modificações sofreu nesse período. D. João VI, entretanto, com toda a sua determinação, conseguiu mudar a estrutura como um todo, firmando as primeiras bases do sistema de saúde pública brasileiro. Em meados de 1821, quando resolveu retornar para Portugal, a cidade já se encontrava urbanizada e bonita e aqui viviam mais de 112 mil pessoas, entre elas, 55 mil escravos. Não é de se estranhar que mesmo com o "empenho" de Dom João, as doenças só foram amenizadas mesmo em fins do século XIX, afinal, jamais foi interesse sincero de Dom João melhorar as condições sanitárias e de atendimento médico ao povo. A criação do Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da Cidade de Salvador e da Escola de Cirurgia do Rio de Janeiro se deram muito mais para atender às necessidades da própria corte.
No aspecto saúde, houve muitas outras pessoas no Brasil que fizeram mais no âmbito público. Foi no primeiro governo de Rodrigues Alves (1902-1906) que houve a primeira medida sanitarista no país. O Rio de Janeiro não tinha nenhum saneamento básico e, assim, várias doenças graves como varíola, malária, febre amarela e até a peste espalhavam-se facilmente. O presidente então nomeou o médico Oswaldo Cruz para dar um jeito no problema. Numa ação policialesca, o sanitarista convocou 1.500 pessoas para ações que invadiam as casas, queimavam roupas e colchões. Sem nenhum tipo de ação educativa, a população foi ficando cada vez mais indignada. E o auge do conflito foi a instituição de uma vacinação anti-varíola. A população saiu às ruas e iniciou a Revolta da Vacina. Oswaldo Cruz acabou afastado.

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