O Islã
Religião originária do Oriente
Médio – surgiu no século VII d.C, na Península Arábica, região atualmente
conhecida como Arábia Saudita. A região tinha em sua maioria beduínos, tribos
nômades de comerciantes que faziam o transporte do comércio internacional e
viviam no deserto; viajavam do sudeste da Ásia até a África ocidental.
Atravessavam a Península Arábica levando em suas caravanas artigos de luxo,
especiarias e incenso até o Mediterrâneo.
Naquele tempo haviam dois grandes
impérios, o Bizantino, que ficavam na região do Mediterrâneo e Europa, e o
Persa, onde atualmente é a região do Irã. O povo árabe situava-se,
espacialmente, no meio dos dois impérios. Neste contexto, em 622 d.C., um
comerciante de nome Maomé, que morava em Meca, recebeu uma revelação do anjo
Gabriel, mandando que ele se levantasse e escrevesse o que seria ditado. Maomé nascera
em 570 d.C. e como a maioria da população da época era semianalfabeto, sabendo
apenas o básico para realizar operações comerciais, e não sabia escrever. A
princípio, alguns membros da família acreditaram na revelação recebida por ele
e o apoiaram. Porém, os comerciantes mais influentes de Meca não agiram da
mesma maneira, tornando-se hostis às ideias de Maomé e de sua nova crença.
Havia em Meca uma espécie de altar para culto aos deuses pagãos, chamado Kaaba.
Em volta da Kaaba, havia símbolos de diferentes cultos pagãos e Maomé, ao
anunciar o princípio do Islã, derrubou todos eles, quebrando-os inclusive.
Meca era uma cidade relativamente
desenvolvida que se mantinha do comércio religioso, das peregrinações e também
de produtos trazidos de outras regiões, comercializados pelos caravaneiros. A mensagem
islâmica dizia só haver um Deus a ser adorado e que esse deus era Alá (Allah),
diferente do Cristianismo que pregava a trindade. Isso perturbou a paz dos
comerciantes locais, os quais começaram a atacar os ideais de Maomé, culminando
em um movimento de caçada ao religioso. A essa época, alguns comerciantes além
de membros da família já apoiavam Maomé e o Islã. Fora preciso que ele e alguns
de seus seguidores se transferissem para Medina, a fim de sobreviver e defender
a religião. Esse fato ficou conhecido com hégira.
Em 632, Maomé consegue retornar à
Meca, em melhores situações e é recebido na cidade como um grande líder
religioso.
Medina também era um centro
urbano desenvolvido e situava-se na rota entre Índia e Mediterrâneo como Meca.
Nessa cidade, os primeiros crentes do Islã construíram sua primeira mesquita,
local onde são realizadas as orações em conjunto. Com o passar dos anos, após a
expansão islâmica, a arquitetura foi-se modificando, constituindo-se de um
salão central – no qual há um espaço reservado (mirhab) para o imam (orientador
da oração) guiar a prece coletiva – e pátios. O imam poderia ser qualquer muçulmano,
não representava um posto como o de padre no Cristianismo. A mesquita, por sua
vez, era um local de oração, mas também servia de local de encontro e de
estudo, onde podiam estudar Direito, Teologia e também Literatura.
O livro sagrado do Islã, o
Alcorão, surgiu após a morte de Maomé. Abu Bakr, um dos seus sucessores mandou
que reunissem todos os ensinamentos e revelações recebidas por Maomé em um
livro para que todo muçulmano lesse e conhecesse a palavra divina. Alcorão
significa leitura sagrada, é escrito em árabe conforme foi ditado a Maomé. Os
muçulmanos consideram-no um texto divino, pois é a forma escrita da revelação
de Deus ao Profeta, ao contrário da Bíblia, que foi escrita por homens sobre a
mensagem divina.
Os princípios do Islã, os pilares,
são cinco:
O primeiro pilar é a shahada
(testemunho). É a profissão de fé. Todo indivíduo que quiser converter-se ao
Islã deve dar seu testemunho que “só há um Deus e Maomé é o seu profeta”. Ao
repetir essa frase, é convertido ao Islã. Mas não basta dizer da boca para
fora, é necessário acreditar e praticar os quatro outros pilares.
O segundo pilar é a salat
(prece). Todo muçulmano dever orar cinco vezes ao dia, voltado para Meca. Cada
um deles possui uma bússola de forma a orientar a direção que aponta para a
cidade de Meca, em qualquer lugar do mundo. Na 6ª feira, ocorre a oração
conjunta (jum’a) realizada na Mesquita. A chamada para a oração é feita pelo
muezzin que recita a shahada cinco vezes, convocando os fiéis à oração. No
início da religião, o muezzin ‘entoava’ o chamado do alto de um minarete da
mesquita. Nos dias atuais, a chamada é feita por megafones instalados nos
minaretes, que reproduzem uma gravação.
O terceiro pilar refere-se à
caridade (zakat). É uma ajuda aos necessitados.
Implica na gratidão de Deus por observar sua generosidade ao próximo. É
uma forma de veneração indireta a Deus, uma vez que cuidando e ajudando um
irmão, o muçulmano está venerando Deus.
O quarto pilar é o jejum (sawn),
praticado no 9º mês lunar, o Ramadã. A cada ano, o período do Ramadã pode mudar
de acordo com o ciclo lunar. Neste período, o muçulmano não pode comer nem
beber do amanhecer ao anoitecer. Costumam quebrar o jejum após o por do sol com
água e tâmaras, antes da ceia realizada em casa. Quem estiver em viagem ou
doente ou apresentar qualquer outra situação que o incapacite de jejuar é
liberado.
O jejum não é uma prática
originária do Islã. O Judaísmo e o Cristianismo já o praticavam com fins de
penitência e purificação. No Islã o jejum representa um processo de purificação
da alma, de autocontrole e disciplina das emoções, facilitando o aumento da
tolerância e da compreensão a respeito das dificuldades do próximo.
O quinto pilar é o hajj
(peregrinação). Os muçulmanos que tiverem condições (financeiras, salutares) de
realizar a peregrinação à Meca, devem fazê-la pelo menos uma vez em vida. É
realizada no 12º mês do ano. Os peregrinos vestem uma túnica especial de cor
branca, sem costuras, similar às mortalhas. Chegando a Meca, dirigem-se à
Kaaba, onde circundam diversas vezes a pedra, em oração.
Quando o exército de Maomé começa
o processo de expansão para levar a mensagem a outros povos, após a vitória
sobre os persas e os bizantinos, vitória que os muçulmanos chamam de milagre da
fé, apresentam-se àquelas populações cansadas de tanto guerrear como hóspedes
pedindo permissão para entrar. Não invadem as regiões, não saqueiam e nem
espalham medo, ao contrário, procuram tranquilizar os povos a respeito das
práticas religiosas que praticavam, garantindo-lhes que seriam preservadas,
assim como suas propriedades, e que receberiam proteção se aceitassem o novo
governo e a nova forma de poder. Embora Islã signifique submissão à vontade de
Deus, não obrigavam os povos à conversão. Por consequência, as populações dos territórios
ocupados acabavam submetendo-se não por coerção, mas por opção. Não buscavam se
sobrepuser aos outros povos, mas conviver como alguém que vinha compartilhar
uma nova vida à luz da fé. A expansão islâmica não se deu para conquistar
territórios, mas para trazer os povos para a verdade divina, para trazê-los à
luz.
Com a expansão muçulmana, o árabe
passou a ser a língua científica universal como o inglês é hoje para o mundo.
Era a língua da administração (inicialmente mantiveram o grego), da filosofia,
das ciências, da teologia e da literatura. O Islã e a língua árabe propiciaram
ao mundo do século VII ao XIII uma unificação na qual o denominador comum não
era a religião, mas o conhecimento, a cultura. Pesquisaram todas as ciências
possíveis, em especial a Medicina e a Matemática. Também contribuíram para um
maior cuidado com saúde pessoal e construíram os primeiros hospitais, dos quais
ainda podemos encontrar resquícios em Damasco, Egito, Iraque e Espanha.
A mensagem do Islã traz-nos a
noção de que só existe um Deus e que devemos ser bons, generosos e perdoar o
próximo, ou seja, que procuremos viver o mais próximo possível da imagem do
criador para que mereçamos seu amor e sejamos salvos. Para o Islã, todos são
iguais perante Deus, pois todos somos filhos dele. Não cultuam imagens,
diferente do Judaísmo e do Cristianismo, mas fazem uso de pinturas, geralmente
com temas geométricos ou relativos à natureza, esculturas e da palavra, ou
melhor, da caligrafia como fonte de arte, já que acreditam ser a escrita a
portadora do conhecimento e da palavra de Deus, fonte de luz.
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